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Alcino Soutinho e a casa da democracia

Nascido em 1930, em Valbom, Gondomar, Alcino Soutinho foi uma figura discreta, mas absolutamente essencial da arquitetura portuguesa contemporânea. Licenciado pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, integrou uma geração marcada pela ética do funcionalismo, pela consciência social do projeto e por um certo despojamento que recusava o ornamento gratuito. A sua arquitetura não é exuberante, é profundamente expressiva. Há nela uma clareza ética e estética que a torna absolutamente singular. E talvez por isso tenha deixado tão poucas obras, mas todas elas memoráveis.

A revolução do espaço público em Matosinhos

Nos anos 80, Matosinhos vivia uma transformação profunda. De cidade fabril e piscatória, passava a afirmar-se como um território urbano mais ambicioso, com novas exigências culturais, administrativas e cívicas. É neste contexto que surge a necessidade de um novo edifício para a Câmara Municipal, e é a Alcino Soutinho que é confiado o projeto.

Longe da tentação de criar monumentos ou de uma arquitetura que tem pressa de ostentar, Soutinho concebeu um edifício que é, simultaneamente, austero e generoso. Em vez de um “palácio municipal”, criou uma casa da democracia. Um espaço para todos, funcional e claro, onde a transparência se materializa, literalmente, nas superfícies envidraçadas e nas ligações entre os espaços interiores e o exterior.

Um edifício que se impõe sem esmagar

Inaugurado em 1987, o edifício da Câmara Municipal de Matosinhos destaca-se pelo uso do betão aparente, das madeiras quentes no interior e pela forma como se articula com a praça envolvente, hoje conhecida como Praça Guilhermina Suggia, em homenagem à violoncelista nascida no Porto.

As formas geométricas puras, o jogo de volumes, o ritmo das janelas e as passagens entre pisos criam um equilíbrio subtil entre solidez e leveza. Há uma espécie de coreografia silenciosa entre os diferentes corpos do edifício, que se prolonga na praça, convidando ao encontro e à participação cívica. Neste espaço, a arquitetura torna-se palco, mas nunca espetáculo. É um edifício que se impõe sem esmagar, que acolhe sem se anular.

A galeria, a praça e o espírito de abertura

No piso térreo, uma galeria expositiva, aberta ao público, cumpre o propósito de aproximar a cultura do cidadão comum. O espaço é fluido, permeável, e prolonga-se até à escadaria exterior onde, em dias de sol, se sentam estudantes, idosos e crianças a correr. A arquitetura funciona como mediadora de relações humanas. E isso, num edifício público, é talvez o mais difícil de alcançar.

A consagração crítica e a lição silenciosa

Apesar de nem sempre ser reconhecido pelo grande público, este edifício é estudado em faculdades de arquitetura de todo o país e referenciado em publicações internacionais como exemplo de rigor, ética construtiva e modernidade, sem exibicionismo. Está longe dos holofotes de obras mais exuberantes, mas permanece como um caso raro de coerência entre função e forma, entre política e espaço físico.

Alcino Soutinho deixou em Matosinhos uma lição silenciosa: que o poder pode ser transparente, que a arquitetura pode ser honesta, e que um edifício pode ser simultaneamente belo e útil, simbólico e quotidiano.

Uma visita obrigatória para quem aprecia arquitetura e cidadania

Se está a planear visitar Matosinhos, a Câmara Municipal é um ponto de paragem obrigatória. Não apenas pelo valor arquitetónico, mas porque conta a história de uma cidade que se quis moderna, democrática e participativa. É um espaço onde se vê a cidade, e talvez onde ela também se reveja.

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